quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Ferroviária S/A - O buraco é mais embaixo - Bilheteria

Já não é de hoje que argumento as dificuldades da Ferroviária e seu modelo de gestão. Como é sabido, mas não canso de repetir, os pilares para sustentabilidade para qualquer clube e que concretizam receitas são: transferências de jogadores, patrocínio, marketing e venda de produtos licenciados, arrecadação com bilheteria e direitos televisivos.

O que observo é que os times de maneira geral trabalham em todas as frentes mas por vezes tem uma estratégia mais focada em um pilar específico. Tomemos por base matéria do site Futebol Finance comparando os clubes europeus do Bayern de Munique e da Internazionale de Milão.  Em receitas o clube alemão foca seus esforços com mais afinco em patrocínios e marketing dados que representam 54% de sua arrecadação, já a Inter acumula nesse quesito apenas 26% de seus rendimentos, priorizando os direitos televisivos com 60% do total de receitas ante 25% do Bayern.

De maneira clara, temos vertentes diferentes de gestão esportiva, talvez por facilidades internas, talvez pelo perfil de seu público consumidor, mas independente do modelo os clubes tem um perfil generalista em todos os pilares, mas solidificado em uma coluna forte de sustentação. Noto também, apesar da objetividade em um pilar, a diversidade de receitas dirimindo riscos de uma forte e exclusiva dependência.

No nosso mundinho, a AFE, pauto novamente as dificuldades e precariedades em todas os elementos de sustentação. A Ferroviária hoje tem uma clara relação de dependência com patrocínio sendo inexpressiva ou até mesmo inexistente as receitas oriundas de transferências de jogadores, direitos televisivos, licenciamento de produtos, ações de marketing e bilheteria. Diante do tamanho do buraco, hoje por exemplo falarei sobre as receitas com bilheteria.

Desde o ano de 2008 até a série a A2 de 2011 a Ferroviária arrecadou com renda líquida pouco mais de R$ 404mil, o que gerou um valor médio de R$ 115mil por ano ou os módicos R$9.600 por mês.

O que noto pelo números obtidos é que, como já é sabido também, a Copa Paulista é uma competição sem expressão, sem apelo popular e financeiro. Olhando a Ferroviária nas últimas 3 edições da copinha(2008/09/10), nosso público pagante, em média, representa somente 40% em relação ao público presente nas competições do Paulistão(A2, A3). Em termos de renda a relação é mais esdrúxula pois a receita líquida nas copas Paulista representam apenas 12% do total arrecado se comparado as receitas dos certamos "sérios" da FPF. Com tamanha discrepância é claro que do ponto de vista financeiro não convém participar desta competição.



Outro fator que chama a atenção e é de conhecimento público trata do tema "boa campanha vs. bilheteria". Também mantendo a lógica, não há melhor mágica para dar público quando ofertado com um bom time e uma boa campanha. Basta olhar o ano de 2008, com o quase acesso a série A1 o time obteve média de público pagante de 1.639 e renda líquida por mês de R$ 15mil. Em 2010, e o acesso a série A2, o público médio ficou em 1.665 e renda líquida média mensal de R$ 11,8 mil. Já em 2009, ano do descenso para a A3, o público médio foi de 591 pagantes e renda média mensal de R$ 2mil.

Vale destacar também a significativa elevação das despesas com exames antidopping, arbitragem, fiscalização, policiamento e aluguel da Arena da Fonte, fatores que pesaram com acentuada marca no lucro da agremiação nos últimos anos.

Concluindo, devido a escassez de recursos financeiros, humanos e limitações operacionais, é plausível a estratégia de não participação na Copa Paulista, devendo a direção da AFE conduzir seus contratos com patrocinadores para adequar a tal realidade, dando assim, margem para trabalhar no segundo semestre de cada ano de maneira intensa na prospecção e formação de atletas, nas competições das categorias de base, no futebol feminino e na estruturação deficitária de seu modelo de gestão. Quem sabe assim, consiga desenvolver modelos eficientes e duradouros de captação de recursos em todos os pilares de sustentabilidade e até acumular investimentos e fazer "caixa" para a disputa de sua principal competição. Aos olhos da torcida e o peso da emoção o foco sem dúvida é o acesso a série A1, aos olhos da razão e da gestão estamos distantes do futuro almejado e perene em sua essência. Temos muito trabalho pela frente.

Premissas da pesquisa:
2008 – Campeonato Paulista: Disputou a série A2 e chegou até a 2ªfase
2008 – Copa Paulista: Chegou até a 2ªfase. Foram excluídos os jogos realizados em Taquaritinga
2009 – Campeonato Paulista: Disputou a série A2 e terminou em 20°lugar (descenso)
2009 – Copa Paulista: Chegou até a 2ªfase.
2010 – Campeonato Paulista: Disputou a série A3 e ficou em 2°lugar
2010 – Copa Paulista: Chegou até a 2ªfase.
2011 – Campeonato Paulista: Disputou somente a 1ªfase da série A2
* Copa Paulista de 2009 - jogo Ferroviária x Ituano ( 20.000 pessoas a R$1)
* Copa Paulista de 2010 - jogo Ferroviária x Paulista ( 5217 pessoas a R$2)
Fontes:
- Artigo Dois Modelos de economia, Bayern vs Inter do site Futebol Finance
- Súmulas dos jogos do site da Federação Paulista de Futebol

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