terça-feira, 15 de março de 2011

Histórias da Ferroviária - Revista Perfil - "Arquivo Secreto Grená - O nosso 'Coalhada'"

Lendo a revista Perfil, de destacada e gratuita circulação em toda cidade de Araraquara me deparei com uma nova coluna, cujo título é "Arquivo Secreto Grená". Redigida pelo competente André, chargista de primeira e editor de esportes do jornal O Imparcial, a coluna retrata com bom humor histórias da nossa gloriosa Ferroviária, e que, os apaixonados como eu, não poderiam deixar de ler.

Quero agradecer a revista Perfil Social Araraquara, em especial ao editor Alexandre Veras e ao André por autorizarem a publicação do conteúdo da matéria no Blog AFEgol e que sem dúvida terei imensa satisfação em fazê-lo.  Segue o texto na integra da edição de março de 2011.

Arquivo Secreto Grená - O nosso ‘Coalhada’

Douglas Onça terminou a carreira de atleta como o quinto maior artilheiro da história da Ferroviária e participou de uma das melhores fases da equipe

A partir desta edição da revista Perfil, tornaremos públicas algumas lendas de bastidores que envolvem a gloriosa Ferroviária, time que mexe com as emoções dos araraquarenses e que luta este ano para voltar à elite do futebol paulista. Os curiosos e misteriosos fatos nunca chegaram ao conhecimento da torcida, mas foram relatados por personagens de credibilidade, que ajudaram a escrever a história de seis décadas da equipe grená. Para termos certeza de que o pontapé inicial do nosso novo espaço seria dado com muita categoria, convidamos para estrear a coluna o ex-jogador Douglas Onça, um dos maiores artilheiros da Ferrinha de todos os tempos, que no início do ano assumiu a função de técnico do time de futebol feminino da Ferroviária/Fundesport.

O nome do craque rapidamente nos remete ao lendário esquadrão grená que disputou o Brasileirão de 1983, competição que na época era batizada de Taça de Ouro. Naquele ano, a Locomotiva passou por cima de grandes potências do futebol nacional, como Botafogo (RJ), Internacional (RS), Grêmio (RS), além de outros clubes que tiveram seus brilhos ofuscados na Fonte Luminosa.

Douglas era apelidado carinhosamente de ‘Coalhada’ pelos companheiros de time, que o comparavam ao personagem — brilhantemente criado e interpretado por Chico Anysio — em função do atleta afeano utilizar o cabelo naquele ‘estilão anos 80’, também aderido por ídolos da época, como Casagrande, Careca, entre outros.

Mas a semelhança entre os dois ‘Coalhadas’ se limitava à cabeleira, afinal o personagem era um tremendo perna de pau que se achava um craque. Já o araraquarense era exatamente o oposto e, como o próprio sobrenome sugere, era uma verdadeira fera dentro de campo, onde esbanjava categoria, inteligência e presenteava os torcedores com golaços de ficar na memória, o que fazia com que clubes de todo o canto do Brasil ‘crescessem os olhos’, sonhando em contar com seu futebol. E mesmo com essas virtudes, o sujeito esbanjava humildade.

Mas o fato é que, por incrível que pareça, um dia, daqueles em que todos os planetas do Sistema Solar formam uma linha reta, essa mesma linha apontou para a cidade de Piracicaba, onde os dois ‘Coalhadas’ viriam a ficar frente a frente, debaixo de um mesmo teto.

Depois de uma partida contra o XV de Piracicaba pelo Paulistão, em que a Ferrinha acabava de sair do estádio Barão de Serra Negra, com uma vitória por 1x0 na bagagem, o elenco grená parou para jantar em um restaurante naquela cidade e todos os atletas já se acomodavam em seus lugares. De repente, Douglas bateu o olho em uma das mesas e lá estava o Chico Anysio, em carne e osso, mandando um rango para o bucho, acompanhado de sua esposa e seus filhos.

O afeano, que além de jogador era colecionador de autógrafos, não poderia perder aquela oportunidade. Ao comentar na mesa a sua intenção de se aproximar do artista, sofreu muitas gozações por parte dos colegas:

— Onde já se viu jogador-fã! O cara não te conhece, deixa disso e sossega aí! — dizia Turquinho, o preparador físico do time.

— Não quero saber! É o Chico Anysio! — cravou Douglas, com convicção, se levantando da cadeira.

Persistente, como era dentro de campo, nosso herói convenceu o habilidoso atacante Claudinho a acompanhá-lo na missão. Sidney também foi outro atleta a abraçar a causa. E lá foram os três em direção à mesa onde estava o ícone do humor brasileiro, que os atendeu com muita atenção.

Chico perguntava o nome e fazia o autógrafo com uma dedicatória. Assim foi com Sidney e Claudinho. Quando chegou a vez de Douglas, o humorista perguntou seu nome e ele se identificou com estilo:

— Sou o Douglas Onça, vulgo Coalhada de Araraquara! — brincou.

Nisso, o ídolo parou, olhou para ele, apontou e indagou:

— Pô, você não ia para o meu Vascão? Por que não deu certo?

Espantado pelo fato do artista estar tão antenado às notícias do mercado da bola, Douglas respondeu que, de fato, houve negociações com o clube carioca, mas a transferência não foi concretizada por motivos que ele mesmo desconhecia.

A conversa se estendeu e, terminado o papo, o astro fez um autógrafo com uma bela dedicatória, onde revelou a expectativa de ver um dia o craque araraquarense vestir a camisa do time do seu coração.

Feliz da vida, o ‘jogador-fã’ voltou para sua mesa, onde rapidamente os dois companheiros narraram a empreitada para os demais. Douglas se sentou ao lado do preparador físico, colocou a mão em seu ombro e tirou aquela onda:

— Turquinho, o homem te conhece? Eu sou amigo dele!"

Carlos André de Souza é colunista da revista Perfil Social Araraquara, chargista e editor de esportes do jornal O Imparcial

Fotos: Museu do Futebol e Esporte de Araraquara
Créditos: Revista Perfil Social Araraquara - edição n°10 - Março-2011, p. 44.

Um comentário:

  1. Olá, Ricardo.
    Fiquei muito feliz e honrado pelo seu interesse em publicar a coluna em seu blog, que é um veículo que traz sempre informações de grande valia para a massa afeana espalhada pelo mundo, o que prova que a paixão pelo manto grená vai muito além dos limites do município.
    Parabéns por esse trabalho que admiro muito!
    Grande abraço!

    André de Souza

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