terça-feira, 13 de setembro de 2011

Histórias da Ferroviária - Revista Perfil - "Arquivo Secreto Grená - Ele pregou o bom futebol"

Na edição deste mês da revista Perfil somos agraciados com uma história de um grande ídolo grená, o inesquecível zagueiro Mauro Pastor. Parabéns ao colunista André e a direção da revista pela escolha. Vamos ao texto.

"Arquivo Secreto Grená - Ele pregou o bom futebol"

Mauro Rodrigues dos Santos, conhecido no mundo da bola como Mauro Pastor devido ao fato de ter sido evangélico durante sua vida de boleiro, foi um dos maiores zagueiros de uma época marcada por um futebol artístico, que encantava muito mais pela beleza do espetáculo do que pelos resultados. Sua técnica apurada chamou a atenção de Telê Santana, treinador da seleção brasileira que esquentava seus motores para a Copa do Mundo de 1982, realizada na Espanha.
Mauro Pastor, que deixou saudade na defesa da Ferroviária,
não disputou a Copa de 82 em função de uma lesão no tornozelo

Mas acredite se quiser: Se não fosse uma lesão no tornozelo, sofrida antes de um mundialito que servia como um torneio preparatório para a Copa, nosso personagem retratado neste texto seria o zagueiro titular do time que contava com feras como Zico, Sócrates, Toninho Cerezzo, Eder, Falcão, Leandro, Júnior. Bom, deixa pra lá... Afinal, até hoje ninguém entende como aquele esquadrão que encantou o mundo não levantou o caneco! Talvez só tenha faltado o Mauro Pastor ali na zaga...

Mas enfim, para que chorar o leite derramado se o que ficou foi uma carreira marcada por conquistas e mais conquistas? O zagueiro participou de um timaço do Inter-RS que venceu quatro estaduais, além do título invicto do Brasileirão de 1979 e o vice-campeonato da Libertadores de 1980. Dizem que até hoje o ex-jogador não pode andar tranquilamente nas ruas de Porto Alegre, devido à euforia dos torcedores colorados sobre ele.

E mesmo com tanto carinho recebido nas cidades em que trabalhou, o ex-defensor escolheu Araraquara para morar com sua família. Afinal, foi aqui que ele atuou por quatro temporadas (1974 a 1978) pela Ferroviária, time que o levou à Seleção Paulista, resultando em uma visibilidade no cenário nacional. Foi comprado pelo Inter-RS, passou pelo Colorado-PR e posteriormente voltou à Locomotiva para participar da campanha que resultou na quarta colocação do Paulistão de 1985. Passou ainda por Comercial e Independente de Limeira, antes de pendurar as chuteiras em 1993.

Histórias marcantes não faltam sobre suas passagens pela equipe grená. Uma delas aconteceu em Santos, no ano de 1974. Após a Ferroviária encurralar a Portuguesa Santista em seu campo de defesa durante todo o primeiro tempo, o time araraquarense sofria uma enorme pressão nos primeiros 10 minutos da etapa complementar e os atletas grenás começaram a se perguntar o que estava acontecendo para que o time caísse tanto de rendimento. “Foi aí que percebemos que faltava um jogador nosso. Estávamos jogando em dez! Faltava o Coquinho e começamos a perguntar onde ele estava. De repente ele apareceu, pedindo autorização ao árbitro para entrar em campo. Ele teve um desarranjo intestinal e estava no banheiro”, conta Mauro.

Outra situação que não sai da memória do ex-zagueiro aconteceu em 1975. “Geralmente viajávamos na véspera dos jogos, pois as estradas não eram boas e os ônibus também não andavam como hoje. Tínhamos um ônibus simples, mas que tinha acabado de ser turbinado, por isso o presidente da Ferroviária na época falou que o time passaria a viajar no dia do jogo”, descreve. Assim, o elenco almoçou em Araraquara e pegou a estrada rumo a Bauru, onde iria encarar o Noroeste. “O motor do ônibus travou no caminho e chegamos atrasados. O árbitro esperou os 15 minutos de tolerância, mas quando chegamos lá ele já tinha decretado nossa derrota por WO”, conta.

No domingo seguinte, o ônibus já estava consertado e levaria o plantel a Sorocaba, onde aconteceria um jogo contra o São Bento. “Quando estávamos na região de Itu, quebrou o cardan do ônibus. Nosso técnico era o Vail Motta e ele falou para a gente se trocar, pois o pessoal que passasse pela pista saberia que era uma delegação e daria carona. Os 11 titulares formaram um grupo no acostamento e só faltava a gente se jogar na frente dos veículos”, relembra Mauro, sorrindo.

Cada carro que parava levava dois ou três jogadores e, contando com a solidariedade dos motoristas, os atletas conseguiram chegar ao seu destino. “Chegamos em cima da hora. Já estava na tolerância, tinha passado 14 minutos e mais um minutinho nós tomaríamos o segundo WO. Entregamos a ficha para o representante da federação e começamos o jogo. Acredito que isso tenha sido algo inédito no futebol, pois enquanto nós jogávamos, o representante ia preenchendo a súmula e dando para os atletas assinarem”, relata. O restante da delegação, trazido em uma kombi, chegou aos 30 minutos de jogo. “No final deu tudo certo, vencemos por 2 a 1 e depois disso não deu mais problemas no ônibus, mas quase sofremos duas derrotas por WO em uma semana”, completa o ex-zagueiro.

Segundo ele, sua relação com a Ferroviária é algo que levará para sempre. “Eu fico muito contente quando as pessoas me falam na rua que eles iam aos jogos da Ferroviária para me ver jogar. Isso é motivo de muito orgulho”, conclui o ex-jogador de 59 anos.

Carlos André de Souza é chargista e repórter esportivo dos jornais O Imparcial e Sim!News
Email: andredesouza@ymail.com

Fotos: Museu do Futebol e Esportes de Araraquara
Créditos: Revista Perfil Social Araraquara - edição n°16 - Setembro-2011, p. 44.
Site da revista Perfil: http://www.revistaperfilsocial.com.br

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