terça-feira, 19 de julho de 2011

Histórias da Ferroviária - Revista Perfil - "Arquivo Secreto Grená - O colecionador de vitórias"

Na edição de julho de 2011 da Revista Perfil temos mais um texto do colunista André relatando outra "fera" da Ferroviária na década de 80. Trata-se do araraquarense e prestigiado técnico Dorival Junior, atualmente no comando do Clube Atlético Mineiro. Segue, na integra, o texto da coluna "Arquivo Secreto Grená".


"Arquivo Secreto Grená - O colecionador de vitórias"

Dorival Junior começou
 como volante na Ferroviária
Cinco títulos estaduais, uma Série B e uma Copa do Brasil. Sete conquistas respeitáveis em apenas sete anos como treinador. Os números poderiam muito bem resumir a competência do técnico araraquarense Dorival Júnior, mas não são suficientes para isso, pois as suas qualidades vão muito além dos resultados.

Inspirado pelo tio, Dudu, que fez história na Ferroviária e no Palmeiras, Júnior iniciou sua carreira de jogador em 1982 e logo de cara integrou um dos mais inesquecíveis times da Locomotiva. Passou ainda por outros clubes como Guarani, Coritiba, Palmeiras, Grêmio, até encerrar a carreira em 1995 no Juventude.

Mas ele não conseguia se ver longe do esporte, e em 2003 assumiu o cargo de diretor de futebol no Figueirense, time que vivia uma fase desastrosa: resultou na queda de quatro treinadores naquele ano. Não deu outra, o cargo sobrou para ele! E o que era um verdadeiro pepino para resolver acabou se transformando na primeira prova de capacidade do treinador, que não apenas salvou a equipe do rebaixamento, como levantou a taça estadual no ano seguinte. E muitas conquistas vieram depois.

Hoje, no comando do Atlético-MG, Dorival veio recentemente à sua cidade natal para receber um diploma de Honra ao Mérito concedido pela Câmara Municipal. No plenário, declarou seu amor à Araraquara e à Ferroviária, onde adquiriu boa parte de sua sabedoria futebolística.

A coluna Arquivo Secreto Grená foi na cola do treinador, que acabou revelando uma história ocorrida durante a Taça de Ouro de 1983, nome dado ao Brasileirão daquele ano. A equipe havia jogado em Brasília e aguardava no aeroporto para pegar o avião que a levaria a Curitiba, local de seu próximo compromisso. Faltavam 40 minutos para a decolagem e cada atleta procurava algum passatempo durante a espera. Dorival Júnior, que estava fazendo algumas anotações, se sentou em uma cadeira dentro de um balcão. “Por lá eu fiquei algum tempo e, após várias pessoas fazerem perguntas que eu não sabia responder, percebi que o local era um posto de informações”, conta. Encabulado, ele mal sabia que o pior ainda estava por vir.

“Ao olhar para os lados, não vi nenhum outro atleta da equipe. Um enorme relógio na parede apontava 11h30 e o vôo estava marcado para as 11h15”, recorda Dorival, que na ocasião, saiu em disparada e se viu em um grande corredor em forma de ‘T’. Percorreu cerca de 100 metros, virou para o lado esquerdo e notou que lá longe estava o Zilinho, atleta que também integrava o plantel da Ferrinha.

Júnior se tranquilizou, parou de correr e foi caminhando, aliviado, até o companheiro, que se mostrou assustado e perguntou o que ele ainda fazia ali. Nisso, uma lembrança veio à mente de Dorival Júnior: Zilinho havia sido expulso no duelo de Brasília e, como estava suspenso do jogo seguinte, pegaria o avião para São Paulo e não para Curitiba, como o restante do elenco.

E o corre-corre recomeçou. Enquanto se movimentava pelo longo corredor e tentava abrir as portas, na esperança de encontrar alguma solução para o seu problema. Todas estavam trancadas, menos uma, que era destinada aos oficiais. O jogador virou a maçaneta e se deu conta de que sairia dentro da pista. Por incrível que pareça, não pensou duas vezes.

Naquele momento, cinco aeronaves estavam estacionadas, se preparando para decolar. A distância entre cada uma não era pequena, mas o boleiro não desistiu, correndo de avião em avião e perguntando pela delegação da Ferroviária.

Enquanto isso, no último dos cinco aviões, o jogador afeano Bozó, justamente um dos mais engraçadinhos da equipe, viu a cena e a compartilhou com todos os outros.

“Eu estava correndo com a pasta na mão, a bolsa pendurada no ombro e vestido com o agasalho grená, que na época era flanelado. Com aquele conhecido calor de Brasília, é possível imaginar como cheguei ao quinto avião. Totalmente encharcado!”, descreve Dorival Júnior.

Ao entrar na última aeronave, o atleta viu o grupo grená lá no fundo e sorriu ao ver que havia reencontrado o rebanho. Rachando de rir, todos os jogadores da equipe se levantaram e começaram a aplaudir a bravura do nosso herói.

“Enquanto cruzava o corredor do avião até o meu lugar, a minha pele, que estava vermelha pelo cansaço, passou para verde, roxo, azul. Aquele foi o primeiro mico que paguei no futebol”, relata.

E como tudo que é ruim sempre pode piorar, aquele vôo foi também o pior de sua vida! Isso porque a aeronave enfrentou várias turbulências e instabilidades durante a viagem. “Em certos momentos, a queda do avião era tão grande que algumas pessoas estavam com xícaras na mão e o café saía em forma de uma fita no ar”, relembra.

Hoje, o conceituado treinador se recorda da história com um sorriso no rosto, mas sabe que aquela foi uma jornada horripilante. E com uma equipe tão boa como era aquela, só mesmo um fator como esse para causar turbulência no grupo.

Carlos André de Souza é chargista e editor de esportes do jornal O Imparcial

Foto: Museu do Futebol e Esportes de Araraquara
Créditos: Revista Perfil Social Araraquara - edição n°14 - Julho-2011, p. 44.
Site da revista Perfil: http://www.revistaperfilsocial.com.br

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