quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Histórias da Ferroviária - Revista Perfil - "Arquivo Secreto Grená - Um nome na história"

Na edição deste mês da revista Perfil podemos recordar a passagem de um mais célebre jogador da Ferroviária, o artilheiro Volnei Aparecido de Oliveira. Antes porém renovo meus agradecimentos a editoria da revista e ao eclético colunista André. Segue o texto.


"Arquivo Secreto Grená - Um nome na história"


São muitos os grandes nomes que ficaram marcados na história por se tornarem artilheiros do Campeonato Paulista de Futebol. Friedenreich, Teleco, Pelé, Serginho Chulapa, Sócrates, Casagrande, Careca, Evair, Raí, Viola, Luís Fabiano, Vagner Love, Nilmar, Elano e Liédson são alguns dos atletas que se destacaram por marcar o maior número de gols em uma ou mais edições do estadual mais difícil do Brasil.

Em uma lista recheada de estrelas, dois jogadores da Ferroviária aparecem para orgulhar os torcedores araraquarenses. Téia, em 1968, estufou as redes em 20 ocasiões e conseguiu a proeza de superar Pelé, que naquele ano já havia conquistado a artilharia ‘apenas’ nove vezes e posteriormente conquistaria outras duas.

Volnei em ação com a camisa grená
O outro ‘matador’ que cravou o nome da Ferroviária na lista foi Volnei, em 1990, ano em que os times do interior dominaram o Paulistão. O campeão foi o Bragantino, do iniciante técnico Vanderlei Luxemburgo, que superou na final o Novorizontino, comandado por Nelsinho Batista, na famosa ‘final caipira’.

Naquele ano, o afeano marcou 12 gols e dividiu o feito com outros dois ‘interioranos’: Alberto, do Ituano, e Rubem, do Guarani. Volnei poderia ter sido artilheiro isolado, pois chegou a marcar o 13º gol, mas o árbitro da partida errou na súmula, atribuindo o tento para Adil, o outro atacante afeano no jogo. Apesar disso, o ex-jogador esbanja orgulho ao lembrar-se de sua façanha. “Foi um feito que não me rendeu dinheiro e nem ao menos um troféu, mas é uma marca que levarei para o resto da vida. Isso é uma coisa que ninguém tira de mim. É muito gratificante pegar a história do Paulistão e ver que meu nome ficou marcado, assim como o nome da Ferroviária”, conta o ex-atleta de 44 anos, que começou a carreira em 1987 no Votuporanguense e teve uma curta passagem pelo Sinop, do Mato Grosso, clube que na época tinha como quarto goleiro o hoje ídolo são paulino Rogério Ceni. Chegou à Araraquara no final de 1988 e passou ainda por vários times como Guarani, Atlético Mineiro, Bahia, Paysandu, antes de encerrar a carreira precocemente, aos 29 anos, em razão de uma lesão no joelho. Hoje, trabalha em um projeto de escolinhas de esportes em Votuporanga.

Volnei: artilheiro do Paulistão de 1990
Volnei conta que a ligação do time com a torcida era muito mais estreita naquela época, quando os corneteiros tinham contato direto com os jogadores durante o dia-a-dia. Mesmo com a Ferroviária integrando a elite do futebol paulista, o atleta, que morava na pensão do São Geraldo, não tinha carro e se dirigia a pé, de chinelo de dedo e mochila, até os treinos. Pelo caminho, encontrava torcedores que elogiavam e cobravam os gols. “Eles vinham conversando e comentando as atuações do time. Tínhamos uma convivência muito boa e por isso a ligação da equipe com a comunidade era muito mais forte”, relembra.

Uma prova do carinho dos torcedores acontecia em um estabelecimento comercial localizado na Avenida 36, próximo à pensão dos atletas. “Era comum as pessoas deixarem várias cervejinhas pagas para nós lá no Bar da Dona Maria, mas elas só eram entregues nos dias de folga”, conta sorrindo. Ele explica que os torcedores fiscalizavam os atletas, mas não havia nenhum problema em tomar uma cervejinha com eles nos dias de descanso.

O ápice da euforia dos araraquarenses ocorreu quando a Ferrinha eliminou o Palmeiras do Paulistão naquele mesmo ano de 90. O Verdão, que vinha de um jejum de títulos, precisava vencer a Ferroviária para se garantir na final contra o Bragantino e por isso toda a imprensa esportiva da capital já colocava o time de Telê Santana como favorito ao caneco. Mas tinha a Locomotiva no meio do caminho, que com grande atuação do goleiro Narciso, segurou o empate em 0 a 0 no Pacaembu, resultado que ainda classificaria o Palmeiras. Mas no outro jogo da rodada, o Novorizontino também surpreendeu a Portuguesa e superou o alviverde em pontos, carimbando sua vaga na final no lugar do Verdão. “Foi um sufoco para sair do estádio. Tivemos que esperar muitas horas para podermos ir embora com alguma segurança. Mas aqui em Araraquara foi a maior festa”, salienta.

Outra lembrança do ex-atacante envolve o Lua, aquele torcedor-símbolo da Locomotiva que distribui cartões amarelos e vermelhos para as pessoas nas ruas da cidade. Lua morava na pensão do São Geraldo e mesmo sendo tratado com muito carinho pelos jogadores, era constante vítima de brincadeiras armadas pelo grupo. Maldades como tirar o xampu do frasco e colocar outros produtos no lugar eram comuns na residência.

“O Lua é uma pessoa que não tem maldade no coração. Ele tinha pavor de macumba e, em uma certa noite, antes que ele chegasse para dormir, eu e o Adil espalhamos várias velas coloridas pelo quarto dele, que quando chegou, se assustou e ficou doido da vida. Depois daquele dia, ele passou a ver o Adil como seu inimigo número um”, brinca Volnei, que tinha sorte do ‘bullying’ não ser uma palavra conhecida naquela época.

Carlos André de Souza é chargista e repórter esportivo dos jornais O Imparcial e Sim! News.

Fotos: Museu do Futebol e Esportes de Araraquara
Créditos: Revista Perfil Social Araraquara - edição n°17 - Outubro-2011, p. 60.
Site da revista Perfil: http://www.revistaperfilsocial.com.br

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