segunda-feira, 18 de abril de 2011

Histórias da Ferroviária - Revista Perfil - "Arquivo Secreto Grená - A ‘Enciclopédia Viva’"

Na coluna "Arquivo Secreto Grená" da revista Perfil deste mês, em circulação em toda Araraquara temos mais uma das gloriosas e bem-humoradas histórias da nossa querida Ferroviária. Desta feita o André, chargista e editor de esportes do jornal O Imparcial relata os "causos" do professor e jornalista Antonio Jorge Moreira, a 'Enciclopédia Viva'.

Mais uma vez agradeço a gentileza da revista Perfil Social Araraquara, seu editor Alexandre Veras e ao André por autorizarem a publicação do conteúdo da matéria no Blog AFEgol. Conheça mais sobre a revista e outras matérias no site da Revista Perfil. Segue o texto na integra da edição de abril de 2011.

"Arquivo secreto Grená - A ‘Enciclopédia Viva’ 

São muitas as lendas que mexem com o imaginário dos torcedores da Ferroviária. Algumas nunca serão confirmadas, enquanto outras são narradas detalhadamente por testemunhas oculares, que juram de pés juntos, que a Fonte Luminosa já foi palco de acontecimentos inacreditáveis.

Um desses fatos inusitados ocorreu há muito tempo, em uma ocasião em que a Ferroviária recebia o América de Rio Preto, pelo Paulistão. No segundo tempo, um atleta adversário se aquecia a beira do campo, esperando a autorização do árbitro para substituir um companheiro. O juiz se esqueceu do sujeito, que continuava lá se aquecendo. O aquecimento foi tanto que até sua cabeça esquentou, fazendo com que ele começasse a espernear com o árbitro, que fez sinal para que a alteração, enfim, acontecesse.

 Foi aí que o jogador honrou o mascote de seu time e entrou em campo encapetado. Enquanto dava seu primeiro passo dentro das quatro linhas, xingou o árbitro com alguma frase que realmente ‘tocou na ferida’, pois a reação foi um belo cartão vermelho. O nervosinho cruzou o campo de uma lateral a outra, indignado, rumo ao túnel, e, mesmo sem participar de nenhum lance, acabou sendo o nome do jogo. É óbvio que não lhe faltou gozação por parte da torcida.

Esse fato foi relatado por um dos estudiosos mais gabaritados quando o assunto envolve a equipe de futebol profissional de Araraquara, o professor e jornalista Antonio Jorge, considerado a ‘Enciclopédia Viva’ da Ferroviária.

Moreira é um dos mais queridos profissionais da imprensa araraquarense, modelo para os mais jovens que iniciam na profissão, por ter seu estilo marcado por muita ética, investigação e, é claro, muita simpatia, tanto no meio jornalístico como nas salas de aula onde lecionou. Foi o criador da coluna ‘Tópicos do Passado da Ferroviária’, no jornal O Imparcial, onde recontou toda a trajetória da equipe, visto que, presenciou de perto quase todas as empreitadas narráveis e inarráveis durante as seis décadas de existência do time.

Outra das infinitas histórias contadas por nosso herói envolve um jogador vindo do Rio Preto, na década de 60. Seu codinome: Coquinho, um meia-direita que havia sido goleador na segunda divisão, e que chegava com pinta de quem iria abafar com o manto grená na elite.

Na época, Moreira era repórter da Rádio Cultura, do jornal O Imparcial e correspondente da Gazeta Esportiva, e, na maioria das vezes, chegava aos treinamentos antes mesmo do elenco. Mas, um dia ele chegou dez minutos atrasado e não acreditou quando olhou para o treino coletivo e viu Coquinho, atuando como zagueiro.

O treinador na época era o argentino Armando Renganeschi, ex-zagueiro do São Paulo, a quem Moreira já tinha uma certa convivência para questionar:

- Ô, Renga! O que o Coquinho está fazendo na zaga?

O técnico olhou de ‘rabo de olho’ para o jornalista e falou:

- Não existe mais nenhum Coquinho aqui na Ferroviária!

- Mas o Coquinho está ali! Eu estou vendo ele! – indagou Moreira.

- Esquece o meia Coquinho! Agora ele é o zagueiro Rossi! – cravou o técnico, com convicção.

De imediato, o repórter pensou que o treinador deveria estar com um parafuso a menos. Apesar disso, quando resolveu prestar atenção no treino, Moreira ficou entusiasmado com o desempenho do novo ‘beque’. Ao final do trabalho tático, se dirigiu ao jogador, que desabafou:

- Pô, Moreira! Esse técnico está doido! Mudou minha posição e até meu nome!

O jornalista olhou para o atleta e o conformou:

- Vou te falar uma coisa. Você tem razão em estar bravo, mas se você mostrar no jogo o que mostrou hoje nesse treino, você será um excelente zagueiro.

O jogador saiu cabisbaixo. Dias depois, a Ferroviária enfrentaria o São Paulo na capital paulista, e a defesa afeana vinha causando calafrios na torcida. Renganeschi apostou suas fichas em ‘Coquinho’ Rossi, que logo de cara seria encarregado de anular o atacante Paulo Valentim, um dos principais artilheiros da época.

Segundo Moreira, aos cinco minutos de jogo, Valentim invadiu a área e Rossi roubou a bola com muita classe. A atuação impecável se repetiu em toda a partida e a Ferroviária bateu o Tricolor por 1x0, com gol de Almeida, que acertou um petardo em cobrança de falta. Foi a consagração de Rossi, que deixou o ‘meia Coquinho’ para trás de uma vez por todas, para construir uma bela carreira, que o consolidou como um dos melhores zagueiros do futebol paulista na época, o que resultou em uma transferência para o Vasco da Gama. Resumindo, o meia revelado pelo Rio Preto se tornou um zagueiro revelado pela Ferroviária. Coisas da Fonte Luminosa."

Carlos André de Souza é chargista e editor de esportes do jornal O Imparcial

Foto: Carlos André de Souza
Créditos: Revista Perfil Social Araraquara - edição n°11 - Abril-2011, p. 44.
Site da revista Perfil: http://www.revistaperfilsocial.com.br

2 comentários:

  1. Figura insubstituível na imprensa esportiva de Araraquara. Seu Moreira, o AJM, deixou para trás um estilo de cobertura completo que não existe mais nos dias de hoje.
    As "Escolas" de jornalismo esportivo não se preocupam mais com o conteúdo, e sim com a forma e o humor, que pautam a formação acadêmica de hoje.
    Mas já deixou um legado que já é seguido há muito por todos aqueles que querem saber mais a fundo sobre a Ferroviária.
    E o que é mais importante: seu valor já foi reconhecido em vida.
    Vida longa ao seu Ajotaeme!

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  2. Fiquei muito contente em ter noticias do Seu Moreira, a quem devo muito. No inicio da minha carreira seu apoio foi fundamental sempre procurando nas suas criticas levantar a minha moral nas partidas em que não fui muito bem.
    Graças ao meu tempo na Ferroviária, sou respeitado na minha cidade onde trabalho com crianças.
    Um agradecimento profundo do seu amigo: Em tempo hoje completo 50 anos de casado com a ROSE. Toninho Goleiro AFE

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