quarta-feira, 14 de abril de 2010

O que leva o público aos estádios de futebol?

O futebol faz parte da vida do povo brasileiro. A paixão pelo esporte se traduz em um grande contingente de pessoas que praticam e acompanham o futebol. O resultado disto, na prática, é que quase todos os brasileiros (82%), homens e mulheres sem distinção social, dizem torcer por um time de futebol e 58% acompanham regularmente ou sempre as notícias de seu time do coração - Fonte: Dossiê Esporte – IPSOS/Marplan-SporTV (2006).

Pensando nisso, pesquisei em sites de marketing esportivo, de gestão de esporte, além de sites e fóruns de torcidas, quais os fatores influenciadores para a presença de público nos estádios. Basicamente, de norte a sul, são seis fatores que contribuem para que o torcedor decida ou não, comparecer ao estádio. São eles:
  • Conforto e acessibilidade
  • Limpeza
  • Serviços
  • Segurança
  • Espetáculo
  • Lealdade ao clube
Análise dos fatores e a Ferroviária

Araraquara tem hoje mais de 200 mil habitantes e está entre as 20 maiores cidades do interior paulista, segundo dados do IBGE.

A média de torcedores da Ferroviária, em Araraquara, na 1ª fase do Campeonato Paulista da A3 – 2010 é de 1.187 pagantes, ou seja, apenas 0,6% da população por jogo. Em 10 rodadas disputadas na Arena totalizaram apenas 11.871 pagantes, ou seja, não teríamos preenchido nem metade da capacidade atual do estádio. Deste total ainda temos 38% de pagantes de ingresso inteiro, 57% de meia-entrada e 4% de entrada VIP.

Com base nesses dados, fiz uma avaliação do fatores de influência de público para o caso da AFE. Segue abaixo:

Conforto e acessibilidade – BOM - Classifico de bom para excelente. A infra-estrutura da Arena da Fonte é confortável. O estádio é coberto e eficiente nos dias de chuva e sol intenso. Dispõe de poltronas confortáveis nas arquibancadas, área VIP e camarotes, todos em excelente estado de conservação. Os banheiros são em número suficiente e em bom estado.

O estacionamento é seguro e perto do estádio. Não há confusões e filas na bilheteria e catracas de entrada. A saída do estádio, ao término do jogo, é ágil, quase sem transito.

O que pode melhorar?

Para quem vem de ônibus, tem que andar um pouco, não é exaustivo, mas podia ser melhor. O acesso ao estacionamento em frente ao estádio é cheio de escadas, por vezes escuras e sem corrimão. Em algumas escadas de acesso da arquibancada existe um degrau perigoso que pode provocar lesões.

Limpeza - BOM -
A Arena é limpa nas áreas de circulação e banheiros. Não há nenhum problema crônico nesse fator.

O que pode melhorar?

Os assentos geralmente estão empoeirados, nada crônicos, mas se você está com uma roupa limpa vai se sujar. Esse item também pode ser um problema para o público feminino, notadamente mais exigente nas condições de higiene.

Serviços - BOM -O preço do ingresso e do estacionamento considero acessível, bem como os serviços prestados na bilheteria e catracas de entrada. A revista policial na entrada do estádio não é traumática, apesar de constrangedora. No quesito alimentação seu preço é razoável e focada no consumo de guloseimas (pipoca, sucos, amendoim, refrigerantes). A comunicação durante o evento é boa. Datas e horários dos jogos não afetam a qualidade do evento.

O que pode melhorar?

O horário dos jogos e a presença de crianças por vezes necessitam uma alimentação de melhor qualidade que o estádio não oferece. Um contrato de exploração comercial de lanches e refeições, além de rentável ao clube também propicia um evento mais prazeroso. O sistema de controle de veículos usado no estacionamento é burocrático, chegando a formar fila desnecessariamente.

Segurança - EXCELENTE -Em todos os jogos não vi nenhuma ocorrência traumática. A torcida é boca quente, xinga muito, mas não há confrontos físicos e nem são lançados objetos no gramado.O comportamento dos jogadores não é hostil dentro do campo, fato que contribui para o público não leve essa hostilidade uns com os outros.

Ainda dentro do estádio não há grades, muros e corredores estreitos e a disposição de torcedores do time visitante é bem controlada.

Dentro e fora do estádio a segurança é excelente.

Espetáculo - REGULAR -Aqui a coisa começa a pegar. De forma expressiva, a Ferroviária não tem um grande time há décadas. Essa falta de resultados e falta de expressão esportiva suficiente para gerar confrontos interessantes, como os antigos come-ferro e bota-ferro reduz o interesse do público.

Outro ponto nesse quesito é a importância de ídolos. A habilidade do ídolo, em parte, garante o espetáculo. Hoje, os jogadores não são conhecidos da torcida. Não há uma identidade torcedor-jogador. Ouço muito os gritos de “vai atacante”, “avança lateral”. Vivemos de recordações como o Bazani, Sérgio Bergantin, Marcão, Douglas Onça, Abelha, todos de longa data. Eu mesmo me esforço para associar o nome à pessoa. No meu caso, conheço os laterais Assis e Paulo Henrique, os atacantes Rildo, Danilo e Julio Cesar e sei que tem o Amarildo na defesa, mas ainda não sei quem é ele em campo.

Até hoje, vejo o Sérgio Bergantin passeando no shopping e sei quem ele é, mas se encontrar algum jogador da AFE de hoje essa identificação não ocorrerá. Promover essa identidade ídolo-torcedor poderia ser estimulada, como por exemplo, levar alguns jogadores para passear no shopping, nas ruas da cidade, nos campeonatos de futebol dos clubes. Em dia de jogo a cidade não respira futebol, deveria.

Nesse fator tudo pode melhorar. Para começar poderíamos ter a escalação com os jogadores em campo e sendo apresentados a torcida. Um leve aceno não faz mal a ninguém.

Lealdade ao clube - RUIM - Por fim, e o mais importante, a lealdade ao clube influencia na decisão do torcedor em comparecer ao estádio. Ao olhar o público afeano noto que a maioria é formada por um público sênior, de mais de seus 40 anos, tendo parte significativa de pessoas já com seus cabelos brancos e idade beirando os 60, 70 anos. É um público fiel, pois remete a tempos de glória, mas pequeno e com baixo potencial para alavancar novos adeptos, pois à medida que a idade avança, a disponibilidade diminui em função de família, compromissos sociais, trabalho e etc. Há também em menor número um mix de jovens e adolescentes, entre os 15 e 30 anos, crianças e mulheres. Essas pessoas são o grande público-alvo. É necessário ampliar a conexão com esse torcedor e buscar a sua fidelização, garantindo por longo prazo e que não seja interrompida pelos inevitáveis fracassos.

Algumas práticas podem fazer essa influência. Por exemplo, poderíamos organizar a entrada em campo com as crianças presentes no estádio. Apesar de ser comum nos grandes times, na Ferroviária isso não acontece. Para a criança é um evento especial e marcante. Para os pais, é um orgulho.

No intervalo, poderia ocorrer o convite para 5 torcedores terem acesso ao vestiário do time. Sentir o clima. Estar perto dos jogadores. Eles serão multiplicadores de um assunto pouco conhecido pelo público.

Fora dos gramados, a área de marketing deve buscar uma relação honesta e de confiança com seu público-alvo, buscando ligar sua marca com valores que vão muito além de títulos e gols. Como sugestão, poderia visitar os colégios municipais e particulares para falar sobre esporte e a Ferroviária. As crianças e adolescentes merecem atenção. São eles os torcedores do futuro. Como diz a musica do Skank, "quem nunca sonhou em ser um jogador de futebol". Então, porque não ir falar com eles sobre o assunto.

Ampliar benefícios também pode ser feitos, por exemplo, desconto na loja da Ferroviária para quem apresentar o ingresso do jogo. Resgatar e produzir uma camisa retro, dos áureos tempos.

Parcerias com a prefeitura e empresas podem ser feitas propiciando desconto no ingresso, vide exemplo do Estado do Tocantins implantado pela Secretaria do Esporte. Com a campanha Sua Nota Vale Gol, o Governo do Estado repassa aos clubes R$ 3,00 por nota ou cupom fiscal trocado pelo ingresso.

Na minha visão, a Ferroviária deve investir em ferramentas de gestão de informações a fim de conhecer seus torcedores e principalmente seu comportamento para estruturar abordagens de marketing mais consistentes.
Concluindo, existem muitos pontos a desenvolver e trabalhar. O lado positivo é que há grandes oportunidades.

Força Ferroviária!!

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